Dizem por aí que o crime organizado forma sociedades paralelas, dizem também que essas sociedades são marginais, que são alienadas e que tudo isso é consequência da exclusão social. Acredito que não é bem assim.
Primeiro pelo conceito de “paralelas”, segundo a matemática, retas paralelas não se cruzam, mas quando se tratam das sociedades do crime, elas não só se cruzam com o meio social como também estão contidas nele. Sociedade do crime é tida como um meio marginal ao meio social . Porem as semelhanças de modelo dessas sociedades são muitas. Seja na organização hierárquica: traficantes, laranjas, usuários, informantes, simpatizantes, etc. Seja na formação ideológica: o sistema de consumo com vendas, lucros, dívidas, parcerias,etc.
Segundo porque marginal conota exclusão social, mas o que vemos nos jornais é o contrário. O mundo do crime está ao lado, e não à distância. Pessoas de “bem” são presas por envolvimento nas diversas formas de crimes sociais. Seja por roubo, seja por estupro, seja por tráfico, seja por corrupção política, seja por desvio de verbas públicas, etc.
Quem forma as sociedades do crime afinal, será que eles tem uma cara, será que eles tem cor, será que eles tem credo, será que eles andam desenformados, será que são tão desorganizados, marginalizados, alienados e paralelos?
A sociedade do crime organizado veste terno, usa grife, tem avião particular, tem carro do ano, veste saia, passa fome, advoga, presta socorro, canta, investe... Será que estudar, trabalhar, criar um mundo melhor ainda é sedutor? Quantas crianças em escolas públicas estudam sem perspectiva de futuro, quantas em escolas particulares usam drogas ou simpatizam pelo mundo “alternativo” do crime? Ou seja, os sistemas de base da nossa sociedade estão envolvidos por possibilidades, boas ou não. Quando se trata da busca dos adolescentes por adrenalina, por uma vida “alternativa”,” por sexo, drogas e rock”, ou até mesmo pela simples curiosidade, cruzam a sociedade do tráfico que é uma subdivisão do crime organizado. Quando os jovens buscam o primeiro emprego e vêem no tráfico uma melhor forma de ganhar dinheiro. Quando os nossos homens públicos, sejam da polícia, política, órgãos do governo, facilitam o transito do crime organizado. Quando vemos tudo acontecendo ao nosso lado e agimos como se fosse algo banal, também estamos ajudando indiretamente a manter essa tal sociedade. Em fim, todos estamos envolvidos direta ou indiretamente.
Contudo colocar a culpa em alguém é mais fácil, mais barato, e além de tudo não mancha a nossa linda reputação. Dar nomes aos bois é a fuga quase perfeita. Eles são Marginalizado -não se misturam conosco -, eles são paralelos -não se cruzam conosco -, eles são bandidos – não são homens de bem -, eles são os outros – não somos nós - .
Qual é mesmo o conceito de sociedade ?
“Em Sociologia, uma sociedade é o conjunto de pessoas que compartilham propósitos, gostos, preocupações e costumes, e que interagem entre si constituindo uma comunidade.”
“Em Biologia, sociedade é um grupo de animais que vivem em conjunto, tendo algum tipo de organização e divisão de tarefas, sendo objeto de estudo da Sociobiologia.”
Até quando vamos negligenciar às nossas obrigações sociais? Porque manter distante os problemas que são nossos? Acredito que para solucionar problemas como o do crime organizado, problemas na saúde, problemas no ensino, dentre outros, devemos VER de forma diferente nossa sociedade, de forma mais inclusiva, VER nossos erros, VER como podemos melhorar, VER que o bem social depende do individual, da coletividade e da solidariedade.
Somos todos UM. Uma unidade com coisas boas e ruins.
Gabriel Revlon
Gabriel Revlon
tens razão
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