quarta-feira, 27 de abril de 2011

Cheiro e Essência







Cheiro de terra com orvalho em manhã de chuva desperta a sensação de calma e serenidade.
Cheiro de fruta fresca quando fica madura e suculenta, saliva a boca e logo vem a vontade de arrancar um pedaço, ou quem sabe tira-lo de forma suave...
Cheiro de casa, cheiro de hospital, cheiro de jardim, cheiro de cinema...
Cheiros são cheiros, mas cada um tem em si a essência de cada momento. Uns são chamados de odores, mas todos são penetrantes aos sentidos.
Ha Cheiro gostoso ao ponto de dar água na boca, ha Cheiro que dar repulsa, ha Cheiro que invade o desejo e não sacia, e mesmo depois de cheios os pulmões ainda se quer preencher o vazio da existência.
 O Cheiro de casa é cheiro de saudade e amor para uns, mas pra outros é cheiro de rancor e dor. Cada cheiro tem em si uma lembrança, seja boa ou não para cada um.
De manhã, o cheiro de café transpassa as portas e faz a barriga roncar. O Cheiro de café quente, cheiro de bolo de fubá, cheiro de pão com queijo derretido, é quase irresistível.
Cheiro de mar é salgado, e cheiro de rio é doce, cheiro de calor é abafado, cheiro de frescor é frio e alivia, principalmente quando se sente calor.
E eis o cheiro da sinestesia, o cheiro da paixão: cheiro vermelho, cheiro quente que sai da  boca, cheiro de pele, cheiro de calor e arrepio, cheiro de perfume e suor, cheiro de cabelo, cheiro de sexo, cheiro que ofega, cheiro que dispara, cheiro de sufoca, cheiro que sacia, cheiro que entorpece, cheiro que dar prazer, cheiro que nunca se completa...
Ha também cheiro de livro novo, cheiro de jornal velho, cheirinho de criança, cheiro de mulher...
Mas como acontece a maioria essências, o homem não se contenta em só sentir ele também quer aprisionar, materializar o imaginável, o não palpável. Então ele cria os perfumes e os chama de essência.  Eles são muitos: com canela, cravo, limão, alecrim, pimenta, amadeirado, amendoado, doce, flor de laranjeira, suaves, fortes, para homens, para mulheres e para crianças... Existem muitos deles. Alguns despertam alegria e outros lembram a tristeza. E esses são essência ou apenas partículas ?
O verdadeiro cheiro que é virgem, intocável, puro, aquele que encanta todos os mortais.  O Cheiro que foi entregue por Deus aos Homens para que dele desfrutasse e compartilhasse com os outros. Então o homem o misturou, preservou-o, desvirtuo-o e o levou para todo o mundo.


Contudo o verdadeiro Cheiro que é o pai de todos os outros, Ele não pode ser capturado e somente é percebido quando se tem coração puro. Ele nunca foi capturado, possui em Si sua essência intacta. Porem aparece às vezes aos mortais, e quando isso acontece eles ficam extasiados, se sentem quase imortais, puros na Essência, então se sentem amados, verdadeiros e completos. Eis o cheiro da essência, que nunca foi capturado, o cheiro do AMOR.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Em segredo

psiu... tenho que falar baixinho.
passos calados
um olhar que passa despercebido e sem deixar pistas encontra o que satisfaz
os ouvidos estão atentos à voz que sacia
por dentro tem suspiros, arrepios, sinestesia... explodindo em segundos parados, em espaços divididos
um caminho se repete durante os dias, e nos acomodamos em lugares que ficam face a face
deixa-se despercebido o que se sente e um assunto qualquer acontece...
o corpo quase gritando: sorriso de canto de boca, mão se contorcendo, voz que não toma forma definida, palavras não ditas... só por estar perto ?
Mas por fora ainda se cobre o rosto...
psiu, o silêncio faz parte do segredo, mas só para quem está fora, porque onde o sangue escorre, sobressai o som, o som ensurdecedor.
Chega a madrugada e enquanto a noite toma os espaços algumas palavras tomam forma em uma poesia que apenas suspira o que arde no coração. A luz quase não existe, apenas onde se escreve... onde se bebe, onde toca um jazz ressoando ecos de sedução, de amor, de lembranças, de tanto querer.
 Esse Segredo mEU que de tanto ser sEU  acaba por não se endereçar. Mas alimenta o que tem sede e não se sacia.
Em segredo eu faço poesia, eu te chamo de meu bem, falo baixinho no seu ouvido,  sonho contigo...
Em segredo eu passo do seu lado e te percebo enquanto você apenas passa.


Ela

 Ela, a estrela da constelação de sagitário

Ela é pequenina, mas tem brilho imenso que explode em sua essência.

Ela tem cores que se misturam e confundem o meu olhar. Sua cor é azuverde, já não sei mais se observo ou fico pasmo com sua beleza.

Ela não precisa falar, mas tudo se completa em entendimento.
Ela cansou minhas vistas quando resolvi observar seus olhos.

Ela tem Chico, Elis, Amelie, Clarice...

Ela ficaria linda de batom vermelho

Ela me faz entender Pessoa, e ainda me explica o que tem em entrelinhas. "É fácil trocar as palavras, difícil é interpretar os silêncios.”

Quando Amelie desvendou seu destino aos meus olhos senti essa frase: "Estranho o destino dessa jovem mulher, privada dela mesma, porém, tão sensível ao charme das coisas simples da vida..."

Ela tem charme, também, mas ao seu modo, simples e doce na medida certa. Ou estará minha visão a beira do abismo do desejo, esperando ela incerta?

Ela é minha visão quando sai de si e me encontra em mim.

Tenho gostos estranhos, gosto do que me faz querer, gosto também de jogar pedras no lago as emoções, principalmente em dias de chuva, gosto do que não se percebe por todos, apenas para os íntimos, gosto de Navegar inventando Caminhos,olhares livres, límpidos, essenciais...

Ela tem todas as pistas, e eu? Estou atento a procurá-las.

Ela faz silêncio

Ela sorri pro vento.

Ela exala no ar sua essência.

E eu aqui, observando, sorrindo, experimentando o nunca o talvez ou ,quem sabe, o sim!









quinta-feira, 7 de abril de 2011

O que nasce dentro de nós


                                         
Chega ao ventre das emoçoes sem dizer nada, provoca espanto,convence, cria seu espaço em nós. Rompe a escuridão com o amanhecer.
Cresce e nos envolve, desenvolve, cria sensações e muda os rumos da não existência. Dá o passo para existir.
É como um sopro de vida dentro de nós. Até que o que era uma idéia se funde com nosso corpo.
Presenteamos-nos e somos presenteados com o crescer do novo em todas as manhãs. Assistimos mais uma vez o nascer do sol, quebrando a escuridão e criando cores no céu, no espaço que se escondia na escuridão, por dias seguidos...
E quando aquela novidade já faz parte de nós, quando se mistura com nossos sonhos, criamos um mundo de possibilidades, somos envolvidos por aquilo que já está envolvido por nós e que se alimenta do nosso corpo e nossa alma.
Mas enfim, o que nasceu em nós pode se desligar por um acaso. E se a fatalidade ocorre não sabemos o que fazer. Surge o vazio, a ausência imprevisível, o sufoco da alma, o frio, a angustia, surge o lugar onde ninguém deseja visitar.  Mas que às vezes é inevitável e nos encontra para mostrar o que é destino ou acaso.
 Contudo procuramos respostas, ficamos feridos e às vezes ficamos sem saída. Mas mesmo estando nesse lugar escuro com gosto de lagrimas, aprendemos sobre a essência de viver como também aprendemos a perder, a correr riscos, a tentar e a superar...  Nem sempre entendemos o porquê de perdermos um pedaço de nós. Mas o passar do tempo nos anestesia e nos conforta. Enfim surge o fôlego para continuar... Continuar o dia depois do amanhecer, mesmo quando o que nasce em nós já não tem mais vida, mesmo quando o eclipse transforma o dia em escuridão.

Gabriel Revlon