A dominação é camaleônica, polida, sã, doce e sensata... brilha como ouro de tolo
... Numa conversa no café da manhã ela disse umas palavras com ar de felicidade , gabando-se:
- Ele me tratava como uma rainha, nunca precisava sair de casa para comprar nada, ele me dava tudo.
Não precisava falar com as pessoas nos lugares onde íamos, ele falava por nós. Tinha uma vida de boneca de porcelana, realizada... tinha roupas, filhos, casa, cozinha e quarto, uma maravilha...
Mas seu semblante por um segundo entristeceu, mas com a ternura de sempre...
- Ele era ciumento demais, não queria que eu falasse com as pessoas, as vezes era áspero com as palavras, eu não entendia bem tudo aquilo, mas o amava mesmo assim.
Hoje com 70 e poucos anos ela recorda seus poucos e bons momentos, um tempo que nunca voltará atrás... A sua doce juventude foi envolta de palavras lindas, uma boa educação , por uma vida de princesa. Ao final do café ela suspirou fundo e quase sorriu, não sei se de felicidade ou de costume, navegou fundo em suas lembranças... doce lembranças, com gosto de chocolate amargo, com brilhos de ouro nos olhos saudosos, quietos... reflexivos. Lembranças que não voltam mais.
... A marcha fúnebre tocava num rádio ligado na sala ao lado, baixinho, quase imperceptível aos ouvidos desatentos, eles falavam alto entre si, como nas famílias felizes e tradicionais numa mesa de café, falando sobre o cotidiano, sorrindo e alimentando-se do pão de todos os dias...
Gostei do texto em flash-back, percebe-se as nuances internas da personagens: a vida que nunca foi. vlw
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