As luzes estavam aflitas e a festa acontecia, a música tocando, os passos se fazendo, os sorrisos escancarados surgindo nas pessoas,
Uma leve embriaguez, em um momento sublime, pairava sobre quase todos.
E eu perdido no meio daquela Louca paixão, daquela dança desordenada, dos sons do sertão, do cheiro de terra, eu era um errante com meus passos de criança cirandando numa festa da cidade de Petrolina, bem ao lado do São Francisco.
Havia um palco iluminado em minha frente e ao meu lado uma imensidão de vozes falando coisas sem sentido, existia em mim uma agonia silenciosa que explodia como uma emoção apertada em alta pressão expandindo para o infinito. Eram muitos sorrisos brotando de mim. Meus olhos se fechavam e se abriam, lacrimejavam e eu me percebia dançando, mas quando eu não percebia o que estava acontecendo eu apenas sentia o momento e deixava-me embriagar na imensidão de toda aquela magia.
O que não reviverei da mesma maneira... Mas amei aquele doce momento como se minha vida fosse extensão dele.
A única coisa que vinha a minha mente era sentir, sentir, sorrir, tentar encontrar qualquer coisa que me fizesse querer senti cada vez mais.
Então todos deram as mãos e a ciranda começou. Aquela alegria irradiava de todos e se concentrava no ar. A poeira subia, os cabelos se balançavam, os cheiro se confundiam, e uma união se estabelecia entre homens, mulheres e crianças. A canção sonorizava os passos e a dança dançava o que se sentia naquele momento... Não havia passos feitos, apenas dançávamos todos com cumplicidade e amor. Coisas lindas que não se explicam aconteciam e todos se despiam de suas mascaras para deixar o corpo corporalizar a imensidão do momento. Sinestesia, sinestesia, ciranda, cirandando, musicando, profanando, encontrando, vivendo a sinestesia....
Foi como viver a pureza da inocência, eu me via como uma criança descobrindo um mundo e querendo todo ele sem limites, sem ter limites para sentir e amar.
Aquele momento foi uma imensidão, uma explosão interna... Todos cirandando, livres e puros...