domingo, 26 de dezembro de 2010
Mergulhar
Um dia tive contato com o mar. Esse mar era lindo, infinito, parecia profundo e misterioso.
O contato visual foi o bastante pra me aproximar, as cores estavam em minha frente. Cores vivas, nas algas, nos peixes, na areia branca, nas ondas... Tive um contato com o som das ondas, aquele som me acalmou, deixou o dia sereno. Então entrei no mar. Senti uma mistura de sensações: Gosto de água do mar, cheiro da água, um friozinho logo no inicio, mas logo fiquei familiar com aquele ambiente. Era uma questão de aprendizagem. Tive o contato, o interesse, aceitação do novo. Tudo aquilo agora fazia parte de mim. Então me questionei. Qual o limite do ser e do estar? Eu senti a aceitação de meu corpo e interação dos meus pensamentos. Foi formidável!
A superfície era espetacular, com ondas pequenas medias e grandes. Muitas pessoas sorriam e outras estavam indiferentes ao ambiente. A presença das outras pessoas era secundária naquele momento, o meu momento. O reflexo do sol nas ondas, o horizonte, as próprias ondas se quebrando na praia, o nadar das pessoas na superfície, era animador. Então meu corpo já estava mergulhado e senti algo me tocando o braço, era um pequeno peixinho me convidando pra um mergulho. Ele era muito intimo daquele lugar ao ponto de não está na superfície, mas porque vivia em lugar tão fundo?
Bom, o convide não poderia ser recusado, então de forma natural mergulhei de cabeça. Meu corpo já estava dentro de todo aquele ambiente, mas eu ainda não o sentia na sua essência completa. Mergulhei, mergulhei e mergulhei. Descobri o infinito que ainda não era conhecido por meus olhos e por minhas sensações.
Senti falta de ar e voltei a superfície, respirei e então fiz tudo aquilo novamente, aquele peixinho estava longe agora, só que me deixou um presente, seu rastro... Ao mergulhar ele se diluiu naquela imensidão. Ele era parte de tudo aquilo, ele era a complexidade e a simplicidade daquele momento e daquele oceano, era a fusão da unidade com a parte necessária. Uma mistura de ser e estar.
Percebi que mergulhar foi preciso, e hoje faz parte de mim. Sou um homem-peixe, e sinto o mar, sinto sua musica, seu cheiro, seu frio e calor, e quando me esqueço que estou no mar, lembro que nessa hora sou parte dele e que alguém deve está tendo seu primeiro contato, nesse momento. Alguém está mergulhando.
Algumas vezes vou à superfície para contemplar o pôr-do-sol, o amanhecer também. Só que logo sinto a vontade de voltar, porque pra mim, mergulhar se tornou necessário.
Gabriel Revlon
quarta-feira, 8 de dezembro de 2010
Nossa Geração
Nossa geração ama a superficialidade. As pessoas fazem o mínimo, seja no trabalho, seja na escola, seja nas universidades, seja na política, seja nos relacionamentos, etc. Será que essa geração acredita que fazer tão pouco - o mínimo - é o bastante? Parece-me que sim!
As pessoas buscam pouco, pesquisam pouco, lêem pouco, discordam pouco, questionam pouco e desconstroem quase nada. Poucos tentam ir além e julgam ser insuportável fazê-lo.
Com a globalização e tecnologias vinculadas à informação, se torna fácil encontrar fontes Prontas de ”conhecimento”, como : trabalhos escolares feitos, monografias copiadas, pesquisas prontas, resumos dos outros, além de outros ... Onde ficou nossa sede pelo conhecimento?
A internet tem um mundo de informações em músicas, vídeos, conferências ao vivo, livros digitalizados, obras de arte, dentre outros milhares de benefícios da graciosa tecnologia do nosso século. Porem as pessoas mal lêem um livro inteiro. Elas começam empolgadas, continuam menos empolgadas e logo desistem. Pergunto-me, por que tanto desinteresse ?
Os jovens, que normalmente têm em si o espírito revolucionário, que buscam a desconstrução e então a formação de novos valores democráticos, estão deitados em frente as TVs, em frente aos computadores, em festas, etc. Não que essas ações sejam horríveis ou que não existam jovens que sejam revolucionários ou que seja necessária a condição de Vanguarda à juventude, Não ! Mas aquela busca por uma faíscas de pensamento, daqueles que pegam fogo, queimam no ar, explodem e contagiam as pessoas, tudo aquilo que faz da juventude uma fase marcante é pouco visível nos nossos dias. Quem os acomodou ?
Parece-me que não é só a comida que é empacotada, instantânea, de rápida digestão. Acredito que isso também ocorra com as informações e com a formação do conhecimento. Onde estão os estudantes adolescentes com visão integrada de mundo, com capacidade de ler bem um texto e debater sobre um assunto x? Há quem diga, mas isso é um Saco, Como já ouvir muitas vezes. É um saco Fazer exercícios de casa, é um saco ler as questões das provas com texto grande, é um saco ler um livro na escola ou em casa, é um saco querer aprender ... será que os vícios do consumo – Tudo Chega Fácil e prático – não estão danificando a aprendizagem dos adolescentes ?
E os professores , como estão ensinando nas escolas do país, como estão sendo tratados pelos alunos, como são vistos pelos alunos, quantos aplicam nas salas de aula o que aprenderam nas universidades a cerca de práticas pedagógicas relacionadas ao ensino e à aprendizagem dos seus alunos, quantos são bem remunerados, quantos não queriam ensinar ?
A nossa sociedade é reflexo de tudo isso. É essa nossa complexa sociedade que caminha em direção às facilidades, fugacidades, praticidades do sistema de consumo – não que todas sejam nocivas -. Porque esse amor pelo menor esforço e pela superficialidade?
Isso não é um fatalismo, claro que existem muitas pessoas que fazem diferente, buscam, inovam e tem sede de conhecimento. E existem as que não querem nada disso por opção, o que é um direito deles. Existe muito mais do que conhecemos. Mas sei que poderíamos fazer muito mais por nossa geração. Sinto falta de muitas coisas. Sei que podemos fazer muito melhor, porque merecemos um mundo melhor. Isso soa utópico, mas por incrível que pareça, até das utopias de um mundo perfeito para todos eu não escuto há muito tempo. Amadurecemos mais, Perdemos a essência, inovamos, regredimos ?
O que é essa nossa geração ?
Gabriel Revlon
Gabriel Revlon
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